OLHAI AS AVES DO CÉU
O Evangelho Segundo o Espiritismo
por ALLAN KARDEC – tradução de
José Herculano Pires
Capítulo
25 – BUSCAI E ACHAREIS
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Olhai as Aves
do Céu
6 –
Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça
os consomem, e onde os ladrões os desenterram e roubam. Mas entesourai para vós
tesouros no céu, onde não os consomem a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões
não o desenterram nem roubam. Porque onde está o tesouro, aí está também o teu
coração.
Portanto
vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida, que comereis, nem para o vosso
corpo, que vestireis. Não é mais a alma do que a comida, e o corpo mais do que
o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem fazem
provimentos nos celeiros; e, contudo, vosso Pai celestial as sustenta.
Porventura não sois muito mais do que elas? E qual de vós, discorrendo, pode
acrescentar um côvado à sua estatura? E por que andais vós solícitos pelo
vestido? Considerai como crescem os lírios do campo; eles não trabalham nem
fiam; digo-vos mais, que nem Salomão, em toda a sua glória, se cobriu jamais
como um destes. Pois se ao feno do campo, que hoje é e amanhã é lançado no
forno. Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos
aflijais, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos cobriremos?
Porque os gentios é que se cansam por estas coisas. Porquanto vosso Pai sabe
que tendes necessidade de todas elas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a
sua justiça, e todas estas coisas se vos acrescentarão. E assim não andeis
inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu
cuidado; ao dia basta a sua própria aflição. (Mateus, 19-21,
25-34).
7 –
Se tomássemos estas palavras ao pé da letra, elas seriam a negação de toda a
previdência e de todo o trabalho, e consequentemente, de todo o progresso.
Segundo esse princípio, o homem se reduziria a um expectador passivo. Suas
forças físicas e intelectuais não seriam postas em atividade. Se essa tivesse
sido a sua condição normal na Terra, ele jamais sairia do estado primitivo, e
se adotasse agora esse princípio, não teria mais nada a fazer. É evidente que
não poderia ter sido esse o pensamento de Jesus, porque estaria em contradição
com o que ele já dissera em outras ocasiões, como no tocante às leis da
natureza. Deus criou o homem sem roupas e sem casa, mas deu-lhe a inteligência
para produzi-las. (Ver cap. XIV, nº 6 e cap. XXV, nº 2).
Não
se pode ver nestas palavras, portanto, mais do que uma alegoria poética da
Providência, que jamais abandona os que nela confiam, mas com a condição de que
também se esforcem. É assim que, se nem sempre os socorre com ajuda material,
inspira-lhes os meios de saírem por si mesmos de suas dificuldades. (Ver
cap. XXVII, nº 8)
Deus
conhece as nossas necessidades, e a elas provê, conforme for necessário. Mas o
homem, insaciável nos seus desejos, nem sempre contenta-se com o que tem. O
necessário não lhe basta, ele quer também o supérfluo. É então que a
Providência o entrega a si mesmo. Frequentemente ele se torna infeliz por sua
própria culpa, e por não haver atendido as advertências da voz da consciência,
e Deus o deixa sofrer as consequências, para que isso lhe sirva de lição no
futuro. (Ver cap. V, nº 4).
8 –
A Terra produz o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando
os homens souberem administrar a sua produção, segundo as leis de justiça,
caridade e amor ao próximo. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como
entre as províncias de um mesmo império, o que sobrar para um determinado
momento, suprirá a insuficiência momentânea de outro, e todos terão o
necessário. O rico, então, considerará a si mesmo como um homem que possui
grandes depósitos de sementes: se as distribuir, elas produzirão ao cêntuplo,
para ele e para os outros; mas, se as come-la sozinho, se as desperdiça-las e
deixar que se perca o excedente do que comeu, elas nada produzirão, e todos
ficarão em necessidade. Se as fechar no seu celeiro, os insetos as devorarão.
Eis por que Jesus ensinou: Não amontoeis tesouros na Terra, pois são
perecíveis, mas amontoai-os no céu, onde são eternos. Em outras palavras: não
deis mais importância aos bens materiais do que aos espirituais, e aprendei a
sacrificar os primeiros em favor dos segundos. (Ver cap. XVI, nº 7 e segs.).
Não
é através de leis que se decretam a caridade e a fraternidade. Se elas não
estiverem no coração, o egoísmo as asfixiará sempre. Fazê-las ali penetrar, é a
tarefa do Espiritismo.